ESTUDO: REDUÇÃO DA VELOCIDADE EM VIAS URBANAS SALVA
VIDAS
Seja um familiar, conhecido ou vizinho, é comum conhecermos alguém que
tenha perdido a vida no trânsito. Mesmo com importantes conquistas como a Lei
Seca e a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, por exemplo, o Brasil
ocupa a quarta posição no ranking dos países que mais matam no trânsito.
Pouco explorada, a redução no limite de velocidade máxima permitida é
uma das principais soluções para salvar vidas no trânsito. Isso porque, em
altas velocidades, um condutor não é capaz de tomar a decisão correta a tempo
de evitar uma colisão. Ao atropelar um pedestre a 60 km/h, o risco de morte é
de mais de 80%; se o carro estiver a 50 km/h, contudo, a vítima sofre
ferimentos, mas o risco de fatalidade é bem menor. Veja na figura abaixo:
Pequenas reduções de velocidade diminuem de forma significativa as
mortes no trânsito.
Dados são necessários para estimular
a decisão das cidades
Uma simples redução de 5% na velocidade pode evitar significativamente
os acidentes fatais, é o que mostra a nova publicação “Impactos da Redução dos
Limites de Velocidade em Áreas Urbanas”, do WRI Brasil EMBARQ Brasil (produtora
deste blog).
Marta Obelheiro, coordenadora de Projetos de Saúde e Segurança Viária da
EMBARQ Brasil e uma das autoras do estudo, explica que um limite de 50 km/h,
por exemplo, ao mesmo tempo em que respeita a fragilidade da vida humana,
reduzindo o risco de acidentes graves ou fatais, permite a fluidez no trânsito.
Essa é a velocidade máxima permitida em Tóquio, Londres e Paris, cujo
índice de mortes anuais por 100 mil habitantes é baixo: 1,7, 2,7 e 3,1,
respectivamente. Em contraponto, Fortaleza, Teresina e Goiânia, onde a
velocidade máxima estabelecida é de 60 km/h e perdem 27,2, 27,3 e 29,8 vidas
no trânsito a cada 100 mil habitantes, conforme o infográfico abaixo:
Taxa de mortes no trânsito e cada 100 mil habitantes em cidades com
diferentes limites de velocidade. (Gráfico: WRI Brasil | EMBARQ Brasil.
Impactos da Redução dos Limites de Velocidade em Áreas Urbanas, p.8)
O
risco de ferimentos graves ou morte de pedestres aumenta exponencialmente com a
velocidade. Ao ser atingido por um veículo a 40 km/h, um pedestre tem por volta
de 35% de probabilidade de falecer em decorrência do atropelamento. A 60 km/h,
essa probabilidade aumenta para cerca de 98%, tornando quase nulas as chances
de sobrevivência de acordo com o gráfico abaixo.
Probabilidade de
morte de pedestres de acordo com a velocidade
Ao redor do mundo, são 114 os países que adotaram a velocidade máxima de
50 km/h nas vias urbanas. Em áreas com grande circulação de pedestres e
ciclistas, no entanto, praticam-se velocidades ainda menores, como 30 km/h.
No Brasil, as vias urbanas têm quatro classificações e indicações de
velocidades, que variam conforme características de desenho e uso. Fica a
critério da gestão municipal determinar a velocidade máxima a partir destas
diretrizes. Assim, as cidades podem e devem se valer dos dados e das boas
práticas para embasar boas decisões.
Assim como São Paulo que em 2013, a velocidade nos bairros seguiu foi reduzida,
assim como na região central e
a avenida Paulista. Quando
prefeita, Marta Suplicy aumentou a velocidade de 60 km/h para 70 km/h.
Aumentaram os atropelamentos e mortes. Kassab reduziu de volta para 60 km/h. E
Haddad reduziu mais um pouco, para 50 km/h ainda em 2013. O programa foi
implantado em toda a cidade, em 2015, em especial nas avenidas e, em pouco
tempo, quase todas essas vias passaram a ter a velocidade máxima de 50
km/h em vez de 60 km/h. A redução de velocidade nas marginais foi o ponto de
maior chiadeira (até hoje), a ponto de o Ministério Público e a OAB moverem processo contra a medida.
Pois bem: número de acidentes e mortes no trânsito diminuiu
brutalmente. O número de mortes, que tinha aumentado 8,4% entre 2013 e 2014 (de
1.152 para 1.249), caiu 20,6% (foi para 992). Assim, a taxa de mortos no trânsito por 100 mil habitantes caiu de 10,26, em
2014, para 8,26. Em 2015 foram 257 pessoas mortas a menos que
no ano anterior. Se houvesse o mesmo crescimento que em 2014, o número de vidas
salvas chegaria a 361.
O número de feridos caiu de 27.369 para 23.268, queda de 15,2%
entre 2014 e 2015. Foram 4.101
pessoas a menos. Pessoas como você e eu, que ocupariam leitos em
hospitais, pessoas que poderiam sofrer sequelas permanentes, que demandariam
tratamentos caros, cirurgias, próteses, órteses, fisioterapia… E que hoje estão
levando suas vidas normalmente, sem saber que poderiam ter entrado para essa
triste estatística.
Vale lembrar que a redução na velocidade deve andar de mãos dadas com a
requalificação da infraestrutura viária e com a fiscalização ao respeito às
normas de trânsito, garantindo a segurança de todos, especialmente de pedestres
e ciclistas.
A decisão não é fácil, uma vez que muitas vezes esbarra na ideia
equivocada de que reduzir o limite de velocidade pode aumentar o tempo das
pessoas nos congestionamentos, o que não acontece como mostra imagem abaixo.
Mas a resistência não existe só no Brasil, e foi enfrentada com sucesso nos países que tomaram essa decisão e hoje são exemplo em como tornar o trânsito mais humano e com menos acidentes.
Mas a resistência não existe só no Brasil, e foi enfrentada com sucesso nos países que tomaram essa decisão e hoje são exemplo em como tornar o trânsito mais humano e com menos acidentes.
Baixe a publicação:
Para
alertar tomadores de decisão, gestores e técnicos sobre este problema, o WRI
Brasil | EMBARQ Brasil divulga hoje a publicação “Impactos da Redução dos
Limites de Velocidade em Áreas Urbanas”. O documento apresenta dados sobre os
impactos dos acidentes de trânsito para a sociedade e aponta como a redução da
velocidade pode tornar o trânsito mais seguro. Além disso, mostra como cidades
do mundo reduziram as mortes no trânsito ao diminuir os limites de velocidade
em vias urbanas.
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